sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Correntes d’Escritas: Festa da Literatura aproxima-se, conheça o programa

É já na próxima quarta-feira, 24, que a Póvoa se torna no centro da literatura ibérica com a realização do Correntes d’Escritas – Encontro de Escritores de Expressão Ibérica. O evento decorre até 27 de Fevereiro e traz 66 escritores provenientes do Brasil, de Moçambique, de Cabo Verde, do México, da Colômbia, de França, de Espanha, de Angola, do Uruguai, da Argentina e, claro, de Portugal.

Infopóvoa / Póvoa de Varzim

Como vem sendo habitual, a Sessão Oficial de Abertura marca o arranque do evento no Casino da Póvoa. A cerimónia começa às 11h00 e inclui o anúncio dos vencedores dos três concursos literários e o lançamento da Revista Correntes d’Escritas 9. Este ano, o dossiê da revista é dedicado a Agustina Bessa-Luís e, por isso, no momento do seu lançamento, será feita uma evocação da autora por Inês Pedrosa. Do Casino da Póvoa o Correntes segue para o Auditório Municipal onde, às 15h30, a Ministra da Educação, Isabel Alçada, profere a Conferência de Abertura, com o tema “Leitura, Escrita e Educação”.
Após estes dois momentos, marcantes, o Correntes d’Escritas segue o seu rumo habitual, oferecendo mesas de debate, sessões de poesia, lançamento de livros, cinema, entre muitas outras actividades.

Mesas de debate - É no Auditório Municipal e nas escolas básicas 2/3 e secundárias do concelho que decorrem a maiorias das mesas. Nelas participam os escritores, convidados a falar sobre vários temas. “Escrevo para desiludir com mérito”, Pedra a pedra constrói-se a poesia, “Passo e fico como o Universo”, Literatura: o esforço inédito das palavras, As palavras cercam-nos como um muro, “O poeta é um predador”, A Literatura perverte a imaginação, “Duvido, portanto penso” e “Cada palavra é um pedaço do Universo” são os temas das mesas que vão decorrer no Auditório. Já nas escolas, os alunos vão ter a oportunidade de ouvir os escritores falarem sobre “A voz das palavras”. Destaque ainda para duas mesas que vão decorrer no Diana Bar, para alunos de escolas de concelhos vizinhos.

Concursos Literários - São três os prémios literários atribuídos no âmbito do Correntes d’Escritas. Os vencedores são anunciados no dia 24, na Sessão Oficial de Abertura e os prémios entregues no dia 27, durante o Encerramento. Ao Prémio Literário Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros, concorrem dez obras, em prosa, seleccionadas de entre mais de centena e meia de livros que concorreram ao galardão.
Destinado a jovens entre os 15 e os 18 anos, naturais de países de expressão portuguesa, o Prémio Literário Correntes d’Escritas/Papelaria Locus tem o valor de mil euros. Este ano estão a concurso 72 contos inéditos, apresentados por jovens de todo o país e do Brasil.
Por último, este ano será atribuído pela segunda vez o Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas/Porto Editora. Dirigido às escolas e aos alunos do 4º ano do Ensino Básico, que podem concorrer com um conto ilustrado inédito, em língua portuguesa, elaborado em grupo e sob a supervisão de um professor, o Prémio conta este ano com 74 trabalhos, elaborados por alunos de escolas básicas de todo o país e ainda do Luxemburgo e de França.
O Prémio para o melhor trabalho é mil euros, atribuído à escola de onde o conto for proveniente. O 2º classificado recebe €500 e o 3º €250. A Porto Editora edita ainda os trabalhos premiados em livro, assim como aqueles distinguidos com menções honrosas, livro esse que é depois distribuído a todas as escolas participantes.
No
portal municipal pode consultar as listas de livros e trabalhos concorrentes aos três Prémios.

Lançamento de livros - 23 novos livros vão ser apresentados na Póvoa de Varzim. Na Casa da Juventude decorrem no dia 25 às 12h30 e 17h30 e no dia 26 às 17h00. No hotel Axis Vermar novas obras serão conhecidas no dia 23, 24 e 25, sempre às 22h00.

Iniciativas em destaque
- No dia 27, imediatamente antes da sessão de Encerramento, no Auditório Municipal, Rosa Lobato de Faria é homenageada. Depois entregam-se os Prémios Literários aos vencedores.
- No dia 25, às 21h45, o cinema chega ao Correntes d’Escritas com a exibição de dois documentários pelo Cineclube Octopus. São eles “Toma lá do O´Neill”, de Fernando Lopes, e “José Cardoso Pires – livro de bordo”, por Manuel Mozos.
- No hotel, ainda no dia 25, às 23h00, o Correntes d’Escritas, ciente da sua influência no mercado editorial e do interesse que desperta junto de editores, livreiros, críticos literários, jornalistas, abre-se à apresentação de projectos inovadores no que respeita ao Livro, à Leitura, à Edição. Assim, vão dar-se a conhecer os projectos Ler por aí…, O Rato da Europa e PNETLiteratura.
- Tendo em conta que o Correntes d’Escritas é o maior encontro de escritores do país e o mais prestigiante, marcando, sem dúvida, a rentrée literária, a organização dos Prémios de Edição LER/Booktailors elegeu a Póvoa de Varzim e o Encontro para a divulgação dos vencedores de 2009.
Assim, no dia 26, às 22h00, são anunciados, no Auditório Municipal, os vencedores destes Prémios, os mais importantes do sector editorial português.
- O Correntes d’Escritas estabeleceu este ano uma outra parceria, desta feita com a Universidade do Porto e com o Jornal de Letras, Artes e Ideias. A Universidade seleccionou um grupo de alunos que farão reportagens diárias sobre o Encontro. Estes trabalhos, em vários formatos, serão publicados nos meios de comunicação internos da Universidade, no portal da Câmara Municipal e no site do Jornal de Letras (JL). No final do Encontro cada jovem fará uma reportagem global. A melhor será publicada no JL, na versão impressa ou no site, de acordo com a peça realizada.
- Resultado de uma parceria entre o Correntes d’Escritas, a Booktailors – Consultores Editoriais e a Quetzal Editores será distribuído um número especial da revista B:MAG, inteiramente dedicada ao Encontro. Este Especial Correntes d’Escritas conta com textos de Afonso Cruz, António Manuel Venda, Francisco Guedes, Francisco José Viegas, Héctor Abad Faciolince, João Pombeiro, José Mário Silva, Lúcia Pinho e Melo, Luís Caetano, Luís Diamantino, Luís Ricardo Duarte, Manuel Jorge Marmelo, Manuela Ribeiro, Margarida Ferra, Milton Fornaro, Nuno Seabra Lopes, Paulo Ferreira, Pedro Vieira, Rentes Carvalho, Sara Figueiredo Costa, entre outros. A B:MAG, abreviatura de Booktailors Publishing Magazine, é uma revista especializada em edição e é totalmente gratuita.

Iniciativas Paralelas
- Para além das sessões no Diana Bar para alunos de escolas de outros concelhos, o Correntes d’Escritas inclui ainda a realização de uma Feira do Livro, presente na Casa da Juventude ao longo de todo o evento;
- Uma vez mais o Correntes d’Escritas estende-se a Lisboa, mais concretamente ao Instituto Cervantes onde, no dia 1 de Março, decorre uma 10ª mesa de debate com o tema O Livro é isto: .

No pré-arranque do evento
- O programa do Correntes oferece já algumas iniciativas antes do seu arranque oficial. Assim, no sábado, dia 20, o Auditório Municipal, recebe, às 22h00, o espectáculo de teatro Apalavrado, um projecto de Renata Portas, apresentado com o apoio do Varazim Teatro. Neste espectáculo, são dramatizados dois contos escritos propositadamente para a peça – um de Carlos J. Pessoa, com o nome “O Homem que Embala o Carrinho de Bebé” e outro por Luís Mestre, intitulado “Num dia qualquer”.
- No dia 23, para além do lançamento de livros às 22h00, o Axis Vermar é ainda palco para uma sessão de poesia.
Para saber mais sobre o Correntes d’Escritas visite
www.cm-pvarzim.pt/go/correntesdescritas
onde pode também acompanhar diariamente o evento.

As “toleradas” relembradas em conversa, ontem, no Arquivo Municipal

Infopóvoa / Póvoa de Varzim
As Toleradas da Póvoa de Varzim, título de um livro de edição municipal escrito por Celeste Coelho e Roberto Martins, foi o ponto de partida de nova edição de “À quarta (h)à conversa”, ontem, 17 de Fevereiro, no Arquivo Municipal.
O livro, editado em 2008, é o resultado de um estudo científico elaborado no âmbito da conclusão da licenciatura em História e faz um retrato da prostituição legalizada na Póvoa de Varzim, entre 1871 e 1950.
Os autores do livro explicaram, na sessão de ontem, que se serviram de várias fontes para o estudo, algumas delas conservadas no Arquivo Municipal, como os Livros de Matrículas das Toleradas, as Actas da Câmara Municipal ou os registos de entradas e saídas do Hospital. Estudaram também os códigos administrativos, os Arquivos do Registo Civil e recolheram testemunhos orais.


Desse trabalho, partilharam alguns resultados com a assistência, utentes da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim. Assim, explicaram que o Livro de Matrículas das Toleradas era um registo, obrigatório para quem se dedicava à prostituição, onde constavam dados biográficos e físicos das “toleradas” e ainda a “patroa” a quem pertenciam. Neste Livro de Matrícula eram escritos os resultados das inspecções sanitárias, obrigatórias uma vez por semana. Para além do Livro de Matricula, as “toleradas” eram portadoras de uma Cédula de Polícia Sanitária, que deviam ter sempre consigo, onde constavam os resultados das inspecções sanitárias.
Celeste Coelho e Roberto Martins chegaram ainda à conclusão que, num período inicial da prostituição na Póvoa de Varzim, as “toleradas” eram provenientes de outras zonas do país e chegavam por alturas do Verão, partindo antes do Inverno. Tinham entre 18 e 25 anos, quase todas eram solteiras, a maior parte analfabeta e com profissões humildes, como criada de serviço ou costureira. As “patroas” eram antigas prostitutas e pagavam um imposto. Os autores do trabalho contaram ainda que desconfiam que muitas destas patroas tinham “redes angariadoras”, seduzindo raparigas da província com promessas de emprego e colocando-as depois nos bordéis ou “colégios”.

Com o passar dos anos, a prostituição deixou de ser um fenómeno sazonal e os “colégios” mantinham-se abertos ao longo de todo o ano. Muitas da prostitutas eram já naturais da Póvoa de Varzim.

“Vítimas de uma sociedade que as usava mas não as protegia”, as prostitutas estavam mais expostas a doenças. De tal maneira que o Estado se preocupava com a profilaxia social, chegando mesmo a criar vários panfletos de sensibilização. As doenças sexualmente transmissíveis ou a tuberculose atingiam estas mulheres. Muitas delas sofriam de doenças não identificadas na altura, provocadas por abortos clandestinos, muitos realizados com recurso a mezinhas caseiras que podiam levar a hemorragias fatais. “Eram mulheres que só podiam contar com elas próprias”, contou Roberto Martins. Mas mesmo assim, as “toleradas” de tudo faziam para se igualarem às outras mulheres. Andavam limpas, eram educadas, vestiam-se com decoro na rua.




A prostituição na Póvoa de Varzim encontra o seu expoente no século XIX, quando a Póvoa de torna o “coração da Costa Verde”, um centro turístico devido às praias e ao Casino, sucesso turístico esse que se deve também à ligação ferroviária que ligava ao Porto. Encarada como um “mal necessário”, a prostituição colocava alguns problemas, como por exemplo a localização dos “colégios”. Entre as autoridades, havia a noção que estes deviam ficar perto “mas longe da vista”.
Com a chegada do Estado Novo, surge a questão moral e as mulheres são encaminhadas para instituições ligadas à Igreja, onde podiam aprender novas profissões. Em 1942 são proibidas as novas matrículas, sendo que a prostituição continuava a ser legal para as mulheres já matriculadas. Em 1962 é proibida por completo e em Novembro desse ano assiste-se, na Póvoa de Varzim, ao desaparecimento dos “colégios”. A prostituição entra na clandestinidade.
No final do livro, mais do que uma conclusão, os autores optaram por publicar várias histórias sobre estas mulheres, finais felizes e infelizes. Como a da rapariga que, resgatada pelo pai de um “colégio”, fugiu de casa, de volta ao bordel, trazendo consigo a irmã. Ou a de uma patroa que empregava a própria filha. “Algumas acabavam por encontrar aquilo que procuravam desde sempre, uma casa, um marido, uma família”, contou Roberto Martins, dando como exemplo as histórias de algumas mulheres que acabavam por casar.
Este é o retrato da prostituição da Póvoa de Varzim entre o século XIX e meados do século XX, motivado pelas dificuldades económicas e falta de instrução. Foi mais uma tema tratado no âmbito da iniciativa “À quarta (h)à conversa”, promovido pelo Arquivo Municipal, sempre na terceira quarta-feira de cada mês. Esta foi também a primeira sessão em que o Arquivo recebeu convidados para falar sobre o tema, uma inovação que pretende manter nas próximas sessões. Assim, em Março, no dia 17, o convidado é Armando Marques, que desempenhou as funções de Chefe do Serviço de Turismo da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim entre 1966 e 1987, e que falará sobre o Ciclo Solene e Festivo da Póvoa.