segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Alterações climáticas: ciclo natural da Terra Vs. acção humana

Da esquerda para a direita: Aires Pereira, Marta Pinto e Artur Sá
Infopóvoa / Póvoa de Varzim
E se o aquecimento global estiver a impedir uma nova era glaciar? E se o desaparecimento do Homem for apenas mais uma página na longa História da Terra? Estas questões estiveram em análise na passada sexta-feira, no Diana Bar, onde Artur Sá, paleontólogo, proferiu uma palestra sobre “As mudanças climáticas ao longo da História da Terra: o que nos dizem as rochas”, perante alunos da Escola Secundária Rocha Peixoto.
Aires Pereira, Vereador do Pelouro do Ambiente, deu início à sessão chamando à atenção para alguns casos que tiveram lugar no concelho e que, no seu entender, provam que as alterações climáticas interferem, de facto, nas nossas vidas, pondo mesmo em causa a segurança da população. Deu como exemplo a destruição, recente, do paramento vertical de sustentação e protecção da Avenida Marginal de Aguçadoura, entretanto reconstruído e reforçado. “Por parte do município tem havido um cuidado imenso no que toca à protecção da população”, referiu, lamentando ainda que, por vezes “a memórias das pessoas” as impeça de ver o perigo em que ocorrem quando constroem demasiado perto do mar. “Hoje vemos que as obras feitas pelo Homem são destruídas com facilidade”, observou, uma ocorrência que, considera, é a forma de a Natureza impor o equilíbrio. “Vocês são sem sombra de dúvida o veículo através do qual conseguimos passar a mensagem”, apelou aos alunos presentes. “É com a vossa ajuda que contamos para um futuro mais sustentável”.

4600 milhões de anos. É esta a idade estimada do nosso planeta. Uma longa história repleta de mudanças ou não fosse a Terra “um planeta terrivelmente dinâmico”. O paleontólogo frisou várias vezes que, para perceber as alterações climáticas, tem que se olhar para a História da Terra como um todo, ou seja, contrapor o tempo de vida humana ao tempo geológico. “Não vai ser amanhã, mas que estamos em mudança estamos”. E uma das ferramentas que nos permitem estudar este tempo geológico do ponto de vista do clima são, precisamente, as rochas. Através do seu estudo os cientistas conseguiram, por exemplo, chegar à conclusão que a temperatura média da Terra foi sempre superior à actual e que as concentrações de dióxido de carbono nunca foram tão baixas como agora. “Quando apareceram as primeiras trilobites as concentrações de dióxido de carbono eram 20 vezes superiores às de hoje”. Também o nível médio das águas do mar teve variações assombrosas. “No tempo dos dinossauros o nível estava 200 metros acima dos valores de hoje. Há 18 mil anos tínhamos praias 110 metros acima da linha actual”.
Nos primórdios da Terra existiam já seres muito simples. Há 2700 milhões de anos a Terra assiste ao auge das cianobactérias, responsáveis pela produção de oxigénio. A teoria aponta ainda que a Terra tivesse passado por dois períodos glaciares (o primeiro há 2200 milhões de anos, o segundo há 630 milhões) antes de se dar a primeira grande explosão de vida há 560 milhões de anos, quando surgem seres vivos cada vez mais complexos. “Há evidências irrefutáveis de que a Terra já foi uma bola de gelo total”, sublinhou o paleontólogo, avançado ainda que, quando começam a surgir estes primeiros seres complexos, a Terra era composta por quatro grandes continentes. O Pólo Sul apresentava um clima temperado quente e a Terra era um deserto absoluto. Fruto da deriva dos continentes, estes foram encontrando posições diversas ao longo do tempo, uma movimentação que continua nos dias de hoje, embora imperceptível. “Num milhão de anos esta movimentação é muito significativa”, sublinhou.


“Um dos segredos do clima de hoje é o fecho do Canal do Panamá há dois milhões de anos, o que alterou as correntes marítimas. O clima actual é da responsabilidade dos mecanismos da Corrente do Golfo, quente, e da Corrente do Labrador, fria. Se este motor parar os oceanos transformam-se numa gigantesca panela de sopa podre. Pode acontecer, mas não é de um dia para o outro”, frisou.
Assim, percebe-se que o clima na Terra é composto por vários ciclos e está dependente de inúmeras variáveis. Por isso, Artur Sá afirmou que “todos os dados físicos e astronómicos dizem que nós, nesta altura, devíamos estar a entrar na era glaciar. Mas, de facto, o aquecimento global está a travar esse processo”. Assim, “o que está em causa é o Homem, não é o planeta que está a sofrer, é o Homem. Estamos em extinção”, defendeu.
Da mesma forma que as rochas permitem olhar para o passado também permitem antever o futuro. “Daqui por 250 milhões de anos teremos outro supercontinente e Portugal estará bem mais a Norte”, contou. “A biodiversidade actual será completamente substituída e só mesmo os seres mais simples sobreviverão”.
Na sessão esteve ainda presente Marta Pinto, do Centro Regional de Excelência (CRE), entidade da qual o município da Póvoa é parceiro. A representante explicou que o CRE resulta de um esforço coordenado de várias entidades da Área Metropolitana do Porto e de Organizações Não-Governamentais. “Queremos promover esta ideia de que é possível encaminharmo-nos para um mundo melhor”. Recordando que é a nossa sobrevivência que está em risco, exibiu algumas imagens de “situações insustentáveis” fruto da poluição e até da falta de ligação do Homem com a Natureza. No entanto, nem tudo é negativo. Como afirmou, cada vez mais se assistem a iniciativas importantes do ponto de vista da sustentabilidade da Terra mas “mas temos que começar a trabalhar para mudar”.