Infogauda / Póvoa de Varzim
Sexta-feira, dia 11, às 21h30, foi inaugurada na Biblioteca Municipal a exposição “Figuras da Cor”, de Marcel Saint-Pierre. A exposição está patente até 9 de Julho.
A curadora da exposição e Historiadora da Arte, Anithe de Carvalho, explica que a “obra de Marcel Saint-Pierre é uma interrogação sobre a matéria que compõe a pintura e a cor propriamente dita. A sua pintura estabelece um sistema de auto-referência nos primeiros momentos do processo artístico, mas rapidamente as superfícies provocam uma instabilidade das interpretações. Nos anos de 1980 os seus trabalhos foram unicamente feitos com acrílicos puros, o que significa que o suporte, a cor e a imagem são uma só e única coisa, uma só matéria. É pelo seu próprio processo que consegue esse resultado. Após este período, Saint-Pierre desenvolve a sua técnica. A Historiadora da Arte, Jocelyne Lupien descreveu-a da seguinte maneira: «No início, o artista dobra e redobra uma tela grande e limpa, submergindo-a em vários recipientes com pigmentos muito líquidos. De seguida deposita esta tela embebida por cima de um plástico estendido sobre o solo. Desdobra a tela sobre o plástico, de maneira a que a cor se transfira parcialmente aqui e ali. Em seguida, trabalhando sempre sobre o solo, ele retira a tela e guarda só o plástico sobre o qual ele pinta [...] signos de cor que com o acaso do contacto se depositaram sobre o plástico. Uma vez terminada, esta película de cor pintada sobre o mesmo plástico, retira-se verticalmente e fixa-se sobre uma tela montada». Esta maneira de trabalhar do artista provém de uma mistura de técnicas e de teorias que vêm do surrealismo, da psicanálise, do pós-estruturalismo, do automatismo quebequense e do pintor Paul-Émile Borduas, das pesquisas do grupo francês Support-Surface, da tradição Post-painterly abstraction e das preocupações plásticas da pintora Helen Frankenthaler e também de um pintor como Leonardo Cremonini.
As pinturas de Saint-Pierre são tanto abstractas como figurativas, reconciliando o fazer e o saber, o acaso e o cálculo. Poderia chamar-se à sua pintura de pintura analítica, pois ela é a prova de um trabalho de análise sobre ela própria, sobre as suas condições materiais. Pois a pintura é sobretudo matéria, mas uma matéria que possui um sentido materialista (não essencialista ou idealista).
A exposição “Figuras da Cor”, partindo da mesma estratégia, reflecte esta nova fase técnica e empreendimento teórico. Os quadros expostos são o traço ou rasto desta matéria pictórica, o pigmento em si próprio. As obras são tecnicamente formadas a partir de uma impressão retrabalhada sobre uma folha de plástico e transferida no final para uma tela, impressão extremamente fina como a nossa própria pele. De facto, estamos no domínio de uma abstracção, mas esta impressão esconde secretamente, e por um outro lado afirma em transparência, as preocupações relativas às questões de ordem social ou evocativas de várias temáticas: música, cinema, etc. Por exemplo, “El Deserto Rosso”, apresentada em 2009 na exposição “Histórias do Cinema”, refere-se ao filme de M. Antonioni. As telas mais recentes adoptam a forma oval de um escudo de defesa relativa aos raios infravermelhos ou ultravioletas. As pinturas de Saint-Pierre contêm sugestões figurativas que não podem existir fora da contaminação das matérias pictóricas. É da articulação de todos estes elementos (matéria e sentido cultural) que surge algo que eu designaria como sendo o sistema significante de Marcel Saint-Pierre”.
Marcel Saint-Pierre é natural do Canadá e nasceu em 1944. Formou-se em Pintura na Escola de Belas Artes de Montréal. As suas telas foram exibidas em várias exposições colectivas e individuais no Québec, Toronto, Paris, Nimes e Nova Iorque. Fundador da revista literária «La Barre du Jour», tem ainda vários poemas seus publicados. Paralelamente, foi professor de Artes Visuais e de Historia da Arte na Universidade do Québec em Montréal.