segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PÓVOA DE VARZIM

Como se contam histórias – as lições de Francisco José Viegas na Póvoa de Varzim


Infopóvoa / Póvoa de Varzim
“Eu acho que se deve matar num sítio bonito”. A frase, de Francisco José Viegas , resume a tónica da conversa que, na noite da passada sexta-feira, 11 de Dezembro, marcou a apresentação de O Mar em Casablanca, o novo romance policial do escritor.
“Um autor de romances policiais pode matar quem quiser. Está de alguma maneira impune, ele não é convocado pela Judiciária”, disse o escritor que gosta de se ver “como um contador de histórias, porque faz parte da nossa natureza humana, contar e ouvir. É sempre nessa condição que me apresento como escritor”. E foram muitas as histórias que contou.
O autor recordou, por exemplo, o sucesso que Crime em Ponta Delgada teve nos Açores. “Toda a gente queria saber quem era o criminoso, quem era a vítima, quem era a jovem adúltera”, contando até a conversa que teve como Mota Amaral que lhe pediu que se o matasse nas suas histórias, nunca o fizesse antes das eleições. “Brincamos com a morte, com o crime”, assumiu, dando como exemplo os muitos e-mails que recebeu de leitores aquando da publicação dos folhetins Um Crime Capital, passado durante o Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, e o Um Crime na Exposição, que tinha como cenário Serralves, pedindo ao autor que matasse algumas figuras públicas. De facto, as histórias misturavam personagens reais, como a Administradora de Serralves, a que se juntavam personagens ficcionadas.
“O que nos interessa no romance policial? O crime interessa pouco, queremos pormenores”, considerou, recordando um e-mail que recebeu de uma leitora que acusou o escritor de não ter investigado o suficiente, pois uma das provas do crime em Um Crime Capital , uma peça de lingerie da Dolce & Gabbana, foi identificada pelo personagem Jaime Ramos como sendo de um modelo que, tal como a leitora descobriu, nunca foi comercializado pela marca italiana.

E Jaime Ramos é personagem incontornável nos livros de Francisco José Viegas , a sua popularidade chega mesmo a ultrapassar a do seu criador. “Costumo dizer que fiz um contrato com Jaime Ramos por x livros. Há oito livros que ele me acompanha. Tornou-se um hábito para mim e para os leitores. É uma criatura que eu criei e que se tornou independente”. Uma situação que parece não preocupar o escritor, que considera um “orgulho saber que um personagem nos ultrapassou”. Mas em O Mar em Casablanca o autor não sabia o que fazer com o inspector. “No livro, ele está à beira do precipício, tem um AVC”. Sobre a nova obra, pouco desvendou ou não fosse o mistério a alma do negócio. Passa-se no Norte, em Vidago, e estabelece algumas relações com Angola. O Mar em Casablanca procura também honrar os portugueses espalhados pelo mundo fora, “com histórias de heroísmo absoluto. Quero sempre contá-las no meio da história policial. Quero que se possa ler a história como se eu não a estivesse a contar”.
Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, elogiou a escrita de Francisco José Viegas neste romance policial. “Tem muita poesia no meio, tem aqui descrições que são verdadeiras prosas poéticas e há aqui frases absolutamente nominais, ou seja, o verbo desaparece”, analisou, sublinhando o ritmo que tal dá a uma frase, considerando que essa era uma marca da escrita de Francisco José Viegas.
Recordado que o escritor esteve presente no Correntes d’Escritas, o Vereador defendeu que “graças a pessoas como o Francisco José Viegas o Correntes d’Escritas tem, de facto, alcançado uma notoriedade que sem a participação de pessoas como o Francisco seria difícil”. Um elogio que Francisco José Viegas retribuiu, dizendo que “hoje em dia já são as Correntes d’Escritas que fazem o nosso nome”, exaltando o carácter pioneiro do evento. “A nossa felicidade, às vezes, são os livros. Por isso é que vimos às Correntes”.
Da Porto Editora , Ricardo Miguel Costa contou que “o Francisco José Viegas é seguramente aquele que tem mais convites para estar presente em sessões como esta. Achamos que era imprescindível estar na Póvoa de Varzim, não só pelas Correntes, mas porque a Póvoa de Varzim tem-se assumido como ponto essencial no roteiro que um autor tem que fazer”.
Muitas mais histórias foram contadas ao longo da noite, e outras tantas ficaram por contar. Uma olhar sobre a vida de um homem que escreve romances policiais “porque quero saber como acaba história”.

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