quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Sessão de Abertura divulga vencedores e desvenda revista Correntes d’Escritas 9

Infopóvoa / Póvoa de Varzim

O Casino da Póvoa foi, esta manhã, o local do arranque da 11ª edição do Correntes d’Escritas. O anúncio dos vencedores dos três concursos literários e o lançamento da revista Correntes d’Escritas 9, cujo dossiê é dedicado a Agustina Bessa-Luís, foram os pontos altos da sessão.
A Maria Velho da Costa, que com Myra venceu o
Prémio Literário Casino da Póvoa no valor de 20 mil euros, juntam-se, à lista de premiados, Miguel Rocha de Pinho, que sob o pseudónimo Alarido dos Começos venceu o Prémio Literário Correntes d’Escritas/Papelaria Locus com o conto “A História do Velho Entristecido com a Vida” e ainda os alunos vencedores do Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas/Porto Editora. E são eles: 1º prémio para os alunos do 4º ano do jardim-escola João de Deus, de Salreu, Estarreja com A Casa Misteriosa; 2º prémio para os alunos do 4º B da EB 1 de Ferreiros, Baguim do Monte, com Contou-me o meu avô; 3º prémio para alunos do 4º ano, TO2 da EB1 Monte, de Touguinhó, com João Ratinho à procura de casa. Foram ainda atribuídas menções honrosas aos alunos do 4º ano da Secção Portuguesa da Escola Europeia do Luxemburgo, exclusivamente pela ilustração de Miguelras em busca de amigos, e aos alunos do 4º ano AL4, da EB1 / JI de Arcozelo, Santo Tirso, exclusivamente pelo texto de Um anjo diferente.
As actas e declarações de voto relativas aos três prémios estão disponíveis para consulta no
portal municipal.



Momento igualmente aguardado, a apresentação da revista Correntes d’Escritas contou com uma evocação a Agustina Bessa-Luís por Inês Pedrosa. A escritora recordou o receio que tinha em “falar com a Agustina, ouvia dizer que ela era uma pessoa muito difícil, o que não é verdade”. “Quando uma pessoa ama muito uma obra tem medo desse confronto”, justificou. “Tendo trabalhado em jornalismo cultural durante muitos anos, cheguei à conclusão que os escritores até são das pessoas de mais fácil convívio, e amigos uns dos outros”, analisou a escritora. Características que se estendem a Agustina Bessa–Luís, “há nela uma disponibilidade, uma generosidade e uma vontade de apoiar”.
Analisando o seu percurso literário, Inês Pedrosa defende que “de livro para livro a sua mão foi-se tornando mais leve, a escrita mais certeira. Os seus últimos romances têm uma escrita mais transparente e rápida”. A fuga aos convencionalismos no que toca à criação de personagens e momentos de acção ou as relações humanas de que sempre fala nos seus livros são características da autora de A Sibila, nascida em Vila Meã, Amarante, a 15 de Outubro de 1922, e que “se não fosse escritora teria sido uma óptima política”. “Mais do que adorada, a Agustina precisa de ser amada”, defendeu Inês Pedrosa.
Mónica Baldaque, filha de Agustina Bessa-Luís esteve presente na sessão. “A minha mãe sempre disse que não gostava de homenagens. Há três anos que está doente e há três anos que a represento nestas situações”, contou, mostrando-se no entanto agradada com esta homenagem em forma de “belíssima revista” que conta com textos de vários autores sobre Agustina Bessa-Luís.



Mais do que uma retrospectiva da carreira literária da autora, Mónica Baldaque preferiu falar sobre as memórias que a mãe preservou e que a filha revisita. Memórias essas que se podem encontrar na obra infantil Chapéu de Fitas a Voar. “Todos nós somos responsáveis na construção de memórias das crianças. Foi isso que eu herdei da minha mãe”, afirmou, recordando as tertúlias no Diana Bar, na Póvoa de Varzim, que a mãe mantinha com personalidades como José Régio, Fausto José ou Manuel d’Oliveira, e a que Mónica Baldaque assistia nos intervalos dos seus passeios de bicicleta pela marginal poveira. A esta memória juntam-se as das férias de Verão passadas na cidade, as temporadas na Quinta dos Cavaleiros e na Casa dos Passos, onde Agustina foi buscar a inspiração para escrever A Sibila, ou na Casa do Douro.
Em representação dos escritores, valter hugo mãe dirigiu breves palavras à assistência. “Sinto uma alegria muito grande ao ver os escritores aqui reunidos”, afirmou o autor para quem “vale a pena correr o risco de conhecer os escritores porque se é verdade que nos desiludem aqui e acolá”, em alguns casos a “maravilha da obra corresponde à maravilha humana”.
No encerramento da sessão, Macedo Vieira, Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, mostrou-se preocupado com “uma ameaça que paira sobre todos nós” – os obstáculos à liberdade do pensamento e da sua expressão. No caso dos jornais essa preocupação justifica-se na medida em que a reorganização do mercado, a multiplicação dos suportes electrónicos, a queda das tiragens e das receitas de publicidade, entre outros, ameaça a sobrevivência do jornal, por isso mais permeável “à falta de transparência. Quanto menor a circulação livre de jornais num país, mais alta é a sua posição nos abusos de autoridade. Jornais financeiramente frágeis têm maior probabilidade de se comprometerem a nível ético, moral e de isenção”. Por isso, defendeu o autarca que “a perspectiva de um mundo sem jornais é, pois, em si mesma, motivo de alarme para quantos amam a liberdade e a democracia. O modelo de sociedade em que vivemos pode estar seriamente em causa”.
O livro, no entanto, continua a sobreviver, apesar de anunciada “vezes sem conta” a sua morte. “Cada vez é mais procurado e se vende mais. E não espanta que assim seja, até por essa incontornável vantagem natural que é a sua adequação à comodidade e ao prazer do leitor”. Mas, admite Macedo Vieira, que os leitores do futuro “achem natural ler num ecrã”. Mas mesmo assim acredita que “o futuro do livro, seja lá qual for, vai ser risonho. Sobretudo quando vemos o sucesso que, com vosso contributo, atingiram estas Correntes que, em torno das escritas de expressão ibérica, há 11 anos fazem crescer, na Póvoa de Varzim, a paixão pelos livros, traduzida em mais leitura e melhores leitores”.
Na sessão, destaque ainda para a colaboração com a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, que fez distribuir uns pequenos marcadores com um texto sobre os Direitos das Crianças. Neste âmbito, foram ainda lidos três textos sobre o tema por duas crianças e um adolescente.
O Correntes d’Escritas continua esta tarde, às 15h30, com a C0nferência de Abertura, proferida pela Ministra da Educação, Isabel Alçada. Segue-se, às 17h00, a 1ª mesa com o tema “Escrevo para desiludir com mérito”, uma citação de Agustina Bessa-Luís, assim duplamente homenageada.
Siga cada momento do Correntes d’Escritas no
portal municipal, onde pode também encontrar o programa.

Sem comentários:

Enviar um comentário