INFOPÓVOA / PÓVOA DE VARZIM
A Literatura perverte a imaginação. Tema da 7ª mesa de debate, permitiu diversas leituras a todos os que nele participaram – Leonor Xavier, Malangatana, João Manuel Ribeiro, Manuel Jorge Marmelo e Gonzalo Celorio.
No papel de moderador, Ivo Machado lançou as primeiras perguntas sobre o tema “Perverte a imaginação de quem? Do leitor ou do criador?”
Leonor Xavier tratou de procurar cada uma das palavras no dicionário. Se Literatura e Imaginação dispensam pesquisa, o mesmo não se pode dizer de perverte, “que nada tem a ver com perversão, é o contrário, porque é tornar perverso ou mau, corromper”. Na sua busca por mais opiniões sobre o tema, acabou por recordar uma amiga sua, portuguesa, Maria Adelaide Amaral, que escreve novelas e peças de teatro no Brasil. “A Maria Adelaide tem uma palavra fantástica para as situações que a gente não consegue enfrentar”. Essa palavra é instigante, a mesma que, contou Leonor Xavier, uma amiga sua brasileira, psicanalista, utilizou como resposta ao seu pedido de ajuda sobre o tema. Depois, a escritora fez “uma pesquisa pelos meus amigos portugueses e um deles, de uma geração abaixo, disse ‘Ela não perverte mas potencia a imaginação”. Eu respondi ‘ela subverte’ e por aí fora, podemos pôr todo o género de sufixos e prefixos. É uma coisa torrencial, podíamos estar horas a falar sobre isto”. Lendo um poema que escreveu em memória de David Mourão-Ferreira, “pessoa muito importante para a minha geração”, a escritora e jornalista terminou dizendo que mais não sabia dizer, “não sei se perverte, se subverte, se potencia, tudo isto é muito complicado”.
O mexicano Gonzalo Celorio apresentou uma comunicação onde, por um lado, concordava com o tema, por outro não. “Eu estou de acordo em certo sentido, em termos editoriais e estritamente contemporâneos, porque tenho a impressão que boa parte da narrativa de hoje em dia sacrificou a imaginação”, considerando que crê ter passado o tempo “da narrativa do real maravilhoso e do fantástico”. Discorda, mas termos conceptuais. Isto porque defende que “a imaginação pressupõe a distorção da realidade e, geralmente, pressupõe a ampliação das categorias da realidade. A imaginação é que, de alguma forma, perverte a realidade convencional”. Na sua opinião, não há literatura sem imaginação, mas o oposto pode acontecer. Literatura e imaginação “associam-se frente à realidade e são a literatura e a imaginação que pervertem a realidade”. Acrescentou ainda que não só pervertem mas convertem, advertem, invertem, subvertem, divertem, entre os muitos sufixos e prefixos já mencionados por Leonor Xavier.
No papel de moderador, Ivo Machado lançou as primeiras perguntas sobre o tema “Perverte a imaginação de quem? Do leitor ou do criador?”
Leonor Xavier tratou de procurar cada uma das palavras no dicionário. Se Literatura e Imaginação dispensam pesquisa, o mesmo não se pode dizer de perverte, “que nada tem a ver com perversão, é o contrário, porque é tornar perverso ou mau, corromper”. Na sua busca por mais opiniões sobre o tema, acabou por recordar uma amiga sua, portuguesa, Maria Adelaide Amaral, que escreve novelas e peças de teatro no Brasil. “A Maria Adelaide tem uma palavra fantástica para as situações que a gente não consegue enfrentar”. Essa palavra é instigante, a mesma que, contou Leonor Xavier, uma amiga sua brasileira, psicanalista, utilizou como resposta ao seu pedido de ajuda sobre o tema. Depois, a escritora fez “uma pesquisa pelos meus amigos portugueses e um deles, de uma geração abaixo, disse ‘Ela não perverte mas potencia a imaginação”. Eu respondi ‘ela subverte’ e por aí fora, podemos pôr todo o género de sufixos e prefixos. É uma coisa torrencial, podíamos estar horas a falar sobre isto”. Lendo um poema que escreveu em memória de David Mourão-Ferreira, “pessoa muito importante para a minha geração”, a escritora e jornalista terminou dizendo que mais não sabia dizer, “não sei se perverte, se subverte, se potencia, tudo isto é muito complicado”.
O mexicano Gonzalo Celorio apresentou uma comunicação onde, por um lado, concordava com o tema, por outro não. “Eu estou de acordo em certo sentido, em termos editoriais e estritamente contemporâneos, porque tenho a impressão que boa parte da narrativa de hoje em dia sacrificou a imaginação”, considerando que crê ter passado o tempo “da narrativa do real maravilhoso e do fantástico”. Discorda, mas termos conceptuais. Isto porque defende que “a imaginação pressupõe a distorção da realidade e, geralmente, pressupõe a ampliação das categorias da realidade. A imaginação é que, de alguma forma, perverte a realidade convencional”. Na sua opinião, não há literatura sem imaginação, mas o oposto pode acontecer. Literatura e imaginação “associam-se frente à realidade e são a literatura e a imaginação que pervertem a realidade”. Acrescentou ainda que não só pervertem mas convertem, advertem, invertem, subvertem, divertem, entre os muitos sufixos e prefixos já mencionados por Leonor Xavier.
Manuel Jorge Marmelo “perverteu” o tema usando o seu último livro, As Sereias do Mindelo. “Mais do que a imaginação, a Literatura começou a perverter a minha realidade”, e contou uma série de peripécias e coincidências que ocorreram já quando estava a finalizar o livro. De facto, estando ele a escrever sobre uma personagem que tentava, sem sucesso, chegar a Cabo Verde, também ele, de férias marcadas para este país, mais concretamente para Mindelo, viu o seu voo ser cancelado. “Tal como a minha personagem, também eu não estava a conseguir chegar ao destino”. Vendo nisto um aviso, decidiu cancelar a viagem. Pouco depois, foi convidado, por um grupo de teatro portuense, a acompanhar, enquanto jornalista, a sua participação num festival de teatro em Mindelo. “Achei que era maravilhoso, dado que tinha cancelado as minhas férias, aceitei e fui. E qual não foi a minha surpresa quando me puseram a dormir na residencial onde imaginei que o meu personagem tinha ficado em prisão domiciliária”. Muitas coincidências, mas faltava ainda uma. É que uma das sereias do livro “não tinha um dente da frente”. E, durante o festival, enquanto o jornalista fumava um cigarro no exterior, iniciou uma conversa com uma mindelense. “Quando ela sorriu, vi que não tinha o dente da frente”. Uma história que partilhou com o objectivo de provar que, efectivamente, “mais do que a imaginação, a literatura tem vindo a perverter a minha realidade”.
João Manuel Ribeiro substitui João de Melo, que não pôde comparecer, na mesa de debate. Depois de ler um poema de Eugénio de Andrade, explicou que “a Literatura é um território de paradoxos. O primeiro paradoxo tem a ver com a sua própria definição”. Mas, mesmo assim, avançou algumas definições. É, por exemplo, “experiência antropológica fundamental” ou elemento “que possibilita ver mais realidade porque inclui um conjunto de capacidades e de saberes. Dizem alguns que a literatura é uma forma distinta de aceder e possibilitar conhecimento ou de ver através da realidade”, continuou. “A Literatura não cria imaginação, mas cria realidade. A Literatura perverte a imaginação porque faz dela realidade”.
“Até este momento ainda não sei o que dizer”. A aflição de Malangatana depressa foi substituída pelas muitas histórias que guarda. “Alguém me perguntou como inventava figuras tortas, figuras tristes, figuras grandes. Eu disse que o invento aparece por mentira. É preciso mesmo que o pintor minta para poder perverter a sociedade”.
Verdadeiras ou ficcionais, ou como ele disse “mentira de verdade”, contou histórias e até cantou. E deixou uma forte mensagem no final. “A minha pintura, a minha obra, o que eu crio, não passa de tentar escrever poemas, pintando, pondo a cor, e mentira para que a sociedade se possa ver dentro dessas pinturas que também, de vez em quando, chamo poemas”.
Amanhã termina o Correntes d’Escritas. Não perca a oportunidade de assistir às últimas duas mesas de debate, no Auditório Municipal, às 10h30 e às 16h00.
João Manuel Ribeiro substitui João de Melo, que não pôde comparecer, na mesa de debate. Depois de ler um poema de Eugénio de Andrade, explicou que “a Literatura é um território de paradoxos. O primeiro paradoxo tem a ver com a sua própria definição”. Mas, mesmo assim, avançou algumas definições. É, por exemplo, “experiência antropológica fundamental” ou elemento “que possibilita ver mais realidade porque inclui um conjunto de capacidades e de saberes. Dizem alguns que a literatura é uma forma distinta de aceder e possibilitar conhecimento ou de ver através da realidade”, continuou. “A Literatura não cria imaginação, mas cria realidade. A Literatura perverte a imaginação porque faz dela realidade”.
“Até este momento ainda não sei o que dizer”. A aflição de Malangatana depressa foi substituída pelas muitas histórias que guarda. “Alguém me perguntou como inventava figuras tortas, figuras tristes, figuras grandes. Eu disse que o invento aparece por mentira. É preciso mesmo que o pintor minta para poder perverter a sociedade”.
Verdadeiras ou ficcionais, ou como ele disse “mentira de verdade”, contou histórias e até cantou. E deixou uma forte mensagem no final. “A minha pintura, a minha obra, o que eu crio, não passa de tentar escrever poemas, pintando, pondo a cor, e mentira para que a sociedade se possa ver dentro dessas pinturas que também, de vez em quando, chamo poemas”.
Amanhã termina o Correntes d’Escritas. Não perca a oportunidade de assistir às últimas duas mesas de debate, no Auditório Municipal, às 10h30 e às 16h00.
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